Sunday, December 10, 2006

O Gato Glutão

Gato glutão a nada se habitua
Engole o Sol e cospe a lua
Ama-te a ti, a mim e muitas outras
Como recompensa manda-lhe pedras
Gato vadio não sabe onde cai
Sem dar um ai ou um miado
Habituou-se a não ser cuidado

Arranha em cada afecto
A dormência é seu prato predilecto
Precisa do vento frio no pelo
Para projectar seu olhar predatório
Perdido e nebuloso
Dizem que é quase cego

No sexo ele é sempre mais do que satisfatório
Convencido o foragido
Desafia por ser o melhor
Ele é silencio ele é dor
Todos acreditam nas suas sete vidas
Umas curtas, outras compridas

Mas ninguém quer contar sua história
Por nele verem sua derrota
Ele protege-se no espelho que adornam seu sorriso
E por nunca ter sido preciso
Investe tudo no arremesso
Pelo menos o que dele conheço

Gato assim até pelado
Quase morto enfrenta o fado
Arrastado pela culpa de ainda vivo
Ser por teu olhar posto à prova
Aspira seu declínio
Tal o medo de ser verdadeiro.

Ahhhh vinho que arde
A ultima estocada nesta tarde
O mais quente inferno de tuas pernas
Os Gatos nasceram a saber de tango
Dos oitos que alucinados, baralham inteiramente.
Bebem vinho e cativam solteiras.

Grito mudo de quem quer picar
Com seus mais elegantes bigodes
E tu sacodes… sacodes?
Dás lhe corda para ele atacar-te
Morder teu pescoço e acalmar-te
Na excitação que vem no final

Vem beber deste vinho…vem…
Sabes que eu não digo a ninguém
É esse afinal o meu maior prazer
Saber-me parte do teu lado mau
Ser o teu encontro de ultimo grau
O teu espanto e satisfação

Friday, December 08, 2006

Revolver em roleta russa e rosas na minha campa...

Eu não estou aqui para o teu entretenimento!
Tu de certo não quererás arriscar em demasia o que em mim é verdadeiro, provocar “frisson” é ilusão fácil a alguém com minhas mãos bigorna de cobra, por um lado massivas como martelos por outro lado veneno quente e sensual.
Mas não é ilusão o que decidi mostrar, eu vim para ser aquele que está lá fora quando não há nada para amar. O que sinto por ti, faz-me não desejar-te ficar sozinha depois de todas as luzes se apagarem, quero ficar contigo em tudo ou quase tudo e por culpa minha de não te conceber de outra maneira, sofro a final e luto com os meus demónios que também despertas… como só tu sabes fazer. Estou cá fora, coisa dos gatos vadios, nunca são realmente convidados a entrar. Quando abris-te a janela, atirei-me da mesma, anseio teu grito de morte, cuidado que me daria asas, ou a morada certa para ter caminho de chegada no final de tudo, pois algo existe um conforto que não entendo e que eu próprio luto em manter hermético se conseguisse.
Não te comprometes e eu não admito rival.
Desculpa minhas variações de humor se eu soubesse não ser criança, incomoda-me confidenciar-me em ti, ser vítima de mim próprio quando t procura perto. Se visto cobertores de chuva, quando passo por tua morada, é por me querer em cobertores somente por ti partilhados, é me inconcebível dividir-te, se peguei no ultimo trem e parti é por não gostar de estar longe.
Na minha ausência um beijo atordoou-lhe os sentidos, um abraço e outras mãos a prenderam, deram-lhe outros prazeres. Era esse o pacto, encontrarmo-nos só no fim… talvez fosse…mas a que custo? Já não corro tão seguro quando a cada novo passo sinto-te mais… e sempre insubstituível.

Friday, November 24, 2006

O RATO

Maria Mar Lua o primeiro nome santo de pecado primeiro e de pureza aliciante depois o segundo falava da imensidão que tudo pega que tudo afunda se esse fosse o seu capricho e depois a Lua, a minha amante e maior paixão só à lua os gatos juram fidelidade. Talvez por isso a ti jurei minha curiosidade quase mortal e corri com meu olhar...despindo em cada respiração tua...novidades e descobertas... abri botão a botão o teu decote.
Maria Mar Lua era opium, era o remédio para todos os que a viam passar naquele deambular sensual, extravagantes curvas que nos deixavam bêbados… deixavam nos querer nossos dedos aranhiços para a prender… mas a leveza dela comovia os caçadores e ela passava livre de dentes, línguas e sexos…
Um dia um Rato Assassino puxou gentilmente por seu pulso…despertando os sonos de quem a via passar pela janela… a nuvem dizia que o tempo tinha mudado para sempre, aquele rato de esgoto, que todos desejavam morto, decidira desafiar a beleza mais pura daquela cidade… O Rato intervirá na passada apaixonada daquela mulher tão sumarenta e ingénua…. O Rato traçara à sua volta um ciclo de fogo e seria impossível salva-la agora…Infecciosa, doente… o rato cerrou os dentes e mordeu-a em veneno, em fraquezas que a tornarão sonâmbula de seu próprio sonho…tremula e febril…
A rosa pura amarelou … o Rato condenou a cidade que amava Maria, cuspiu com aquele sorriso que ele mesmo fizera quando a morte o avisara que ele próprio seria Don Giovanni do desapego.
Irónico enfrentava o amor como se fosse um sinal mortal… esquelético e doente tomara Maria à força cegando-a de esplendor ela sentira a excitação do perigo, do mais afiado gume e sexo, ela sentia prazeres da paixão da entrega reformadora, sentindo que aquele animal que a cobria, se tornaria seu anjo alado protector…. Ela não via que em vez de asas, ele tinha a podridão da cidade às costas, tudo o que é sujo e viroso, tudo o que era doença e morte, medo e uso…. Ele comia tudo o que naquela pele era doce e suave, juntava o sangue dela ao dele e enquanto ela gemia prazeres ele jurava-lhe a eterna doença, a escuridão, engolia lentamente tudo o q fora bom e especial naquela cidade.
Maria ainda extasiada, contorcendo-se ainda em pasmos de prazer já o Rato se preparava para sentir o gelo da noite no peito branco de osso e pele esticada, sorria a neve cortava como garras de lobo a frágil pele e o sangue ameaçava surgir… semi nu avançou, Maria assustada, sem saber onde estava perguntou ao Rato, porque saia, se voltava, Rato sorri, obrigado pela foda, coisa fofa, acendeu um cigarro e o fumo desapareceu pelo nevão escuro.

Saturday, October 28, 2006

Berlim

Havia uma pulseira de coro com estranhos ornamentos na mão direita de cada monitor, seres estes, que silenciosos corriam a cidade em busca do precioso líquido que une a vida à morte.
A pulseira era a ultima peça de roupa, aquela que os distinguia e que curioso efeito causava, pois em vez de assustar as vitimas as atraíam e excitavam – tanta gente que prefere trocar a vida por uma noite onde pode viver tudo sem procurar – pensava Dmir, enquanto sentia no corpo as ultimas metamorfoses, bastaria colocar a pulseira e passaria a ser definitivamente Larko, o mais recente dos monitores.
Abriu a janela e voou para o cimo da torre, onde outros o esperariam para uma nova caçada, de olhos fechados, conseguia sentir o pulsar da cidade, a excitação vã de quem desejaria facilmente por fim a uma vida patética, por uma noite de prazer, a cidade é um bicho caprichoso, podia bem ser ele o caçado, pois da mesma forma como sentia a excitação ignorante, sentia também o seu reflexo, ele pouco sabia de sua natureza e eram sem duvida os da sua natureza que mais o assustavam. Seria seguro permanecer humilde em tudo o que aprendia.
Havia um clube de Havana, onde os ritmos latinos se superavam, 4 andares onde a exuberante batida latina, guiava olhares e movimentos de anca, onde o álcool era forte e queimava, onde a provocação e a liberdade dançavam juntas.
Ali haviam mulheres sedutoras, que caminhavam sós procurando a surpresa e a inevitabilidade que por vezes surge implacável, tal a força de um desejo ou conquista.
Larko gostava de sorrir e aproximar-se devagar, faze-las sentir sua presença sem proferir palavras apenas sorrisos e o colar … depois… o físico surgiu antes do verbo ou acção e Manuela dançava agora demasiado perto, curiosa às reacções daquele estranho homem. Que indecente assumia na sua confiança, seus melhores traços de confiança, o beijo surgiria, ela desejava-se render, porém não tão cedo.
Ele não sabia esperar e desapareceu na noite, encontrara em rápido lance uma jovem embriagada de corpo vivo, que agarrou logo e suas mãos correram-na inteira, ela estava excitada e perdida, Larko cobriu-a facilmente e usou seus longos dedos para encostá-la à parede, tocando-lhe aos olhos invisíveis de quem por eles passavam. A jovem tinha vindo com amigas que entretanto tinha julgado mal aquele estranho homem e desse modo tinham perdido para sempre, sua amiga.
Larko despiu-a num telhado, e correu sua língua por aquele peito suave e dourado á luz da lua, ela entregava-se ainda assustada pela loucura que aceitara consumar, as mãos enormes conduziam-na sob o corpo daquele homem forte e intenso. As respirações tornavam-se mais vibrantes e ela não reparara no olhar do predador negro, nem que sua pele…se tornava cada vez mais transparente, o caminho ao clímax era inevitável, ela suava e proferia as ultimas palavras… o grito de prazer que se ouviu…alimento finalmente seu caçador, que entranhando-se dentro dela a fizera desaparecer para sempre esquecida naquela gigantesca cidade.
A cada nova descoberta Larko se tornava mais apurado e esquivo, chegara a hora certa, corria a noite em busca de um nome…

Gostava de saber se gostas de mim

O porto desempenha em mim uma estranha sensação, é porto de chegada, é porto de descobertas, desejo tanto como temo meu regresso…
Era eu rapaz quando um dia na Avenida dos Aliados cantarolei em segredo Pedro Abrunhosa, na minha cabeça só pensava em beija-la e sentia-me nesse direito, entendia como certo este desejo de puxa-la para mim, e esse querer puxa-la surpreende-me ainda. Era clarividente o que sentia, apaixonara-me e esse teria que ser segredo guardado, pois queria tê-la perto e para tal não poderia me render à sua conquista declaradamente. Tenho a nítida sensação que me apaixonei por tanto que és e por tanto mais que não vivemos, falo dos momentos em que preguiçosos lemos discutimos filosofia, livros e bandas desenhadas, falo das horas que passas a ouvir os cd’s novos e esquisitos que teimo em comprar, falo dos beijos, respirações e suores, falo da excitação de tua pele, que juro não compreender porque raio causa em mim este efeito.
Falo que gosto de ti, sem saber se é certo dize-lo.
Perguntei-te se gostavas de mim e tu respondes-te que era uma pergunta complexa, sorri e mostrei-me indiferente, mas quem fugia eras tu e a mim nunca tinha sido tão clarividente gostar de alguém. Nestas revelações perco mais do que tu poderás imaginar e continuo incerto se realmente pensas em mim e no que poderemos vir a ser.
Não pensei que me viesses ler, não sinto que tenhas de mim saudade, será apenas uma estratégia de marketing? Afinal tua astúcia também me prende a ti esse lado livre de viveres o que te apetece e não te justificares… sinto saudades da tua voz e queria o reencontro sem estratégias, pois sou orgulhoso e se entendo e respeito teu silencio, também não gosto dele, nem de estar tão longe.
Quando coloquei aquele post ali pensei que te podia homenagear sem te ter que explicar nada, agora sabendo que também me lês… não escondo que me matas a sede!

Na janela chovia e fazia frio, no rádio… a voz quente de Gilberto Gil cantava…

Traga-me um copo de água
Tenho sede
E essa sede
Pode me matar….

Minha garganta
Pede um pouco de água
E os meus olhos
Pedem teu olhar…

A planta pede chuva
Quando quer brotar….
O céu logo escurece
Quando vai chover…

Meu coração
Só pede teu amor…
Se não me deres
Posso até morrer …

Ama-me a Tinta da China

Ele era o septuagésimo da sua geração, a chuva negra caia sobre suas costas arqueadas e ele observa como as pingas escorriam por seus finos e poderosos dedos, permanecia pétreo admirado com suas admiráveis mãos, capazes de proteger e defender com a mesma brutalidade de quem mata ou ama.
Sua sombra em contrapartida caminhava inquieta pela casa velha e retalhada de memórias, a cor amarelada embrenhava-se entre estilhaços, sangue e animais que ele matara para se alimentar, mas que depois se esquecera tomar, talvez por tudo ser mais excitante enquanto um coração bate descontrolado.
Um ligeiro sorriso surgia naquela boca, que duvido alguma vez ter rido declaradamente e o olhar distante reflectia uma luminosidade que até então sua sombra não havia conhecido.

Teria Larko nosso herói da escuridão mudado?
Sua sombra reagia aflita num grito mudo por saber cedo demais a resposta.

O metro – Ressurreição.

Todo o corpo estremecia e a minha garganta sentia uma saliva quente que engolia a seco, estava de novo só, a caminho de casa numa carruagem de metro, como tantas outras. Os demónios que agora me habitam são bem mais perigosos, sinto a sombra de um lobo faminto a cada passo e a razão que tantas vezes galanteava meus ataques furtivos tinha se perdido, saberia eu ainda falar, ou tudo em mim era ruído.
O corpo dela era sensualidade em cada centímetro, um peito farto e forte era pautado por uma elegância herege, seu respirar mostrava a segurança que de súbito eu perdera ao deslumbra-la.
A carruagem estava cheia e o corpo dela fazia-me quer tomá-la ali mesmo, sem entender respirava para ela e reparava sua pose tensa sabendo que a cercava, entre mim e a porta, enquanto as pessoas cansadas se mantinham imóveis com olhos de infinito.
Minha mão tocou ao de leve na sua mini-saia, procurei sugerir casualidade, mas já minha mão roçava novamente aquele rabo procurando a sua resposta, seu olhar reflectido no vidro da porta era de espanto e inquietude, porém a porta abrira-se e ela permanecia ali com seu cheiro e corpo farto, tão fascinante, pousei minha enorme mão na sua nádega e esperei o tremer que veio, renascença de sentidos ela pousou sua mão no peito sumarento e inclinou o rosto em tímido consentimento.

O metro levou-me bem mais longe que a mais distante das paragens.

Saturday, September 02, 2006

Homenagem a quem me enfrentou sem medos...

Também chuvisca por ai…e depois faz sol?
É bom saber do tempo que faz por ai e depois dentro de nós…
Na floresta onde vives existem pássaros que soam a Ferros de Engomar e Bichos Estranhos que se esticam à janela, mais assustados contigo por não saberem o que esperar da meia índia, meia bruxa, princesa em castigo.
Existe uma estrada a chegar, pode demorar horas, mas por mais negro que a floresta persista, poderá ela acabar com os máximos do meu sorriso?
Nah… bastaria saber o caminho, mas deixas-me às escuras miúda, não me ralo, esta dúvida de ser triunfante, de facto não existe, quero teu abraço!
Não me julgues tonto, por uma vez na vida ter certezas e saber o frio que está na praia, o preocupar-me sem ter que ser, lembrar-me de ti e mergulhar quando apetece, nunca pensei que fosse tudo tão claro no fundo do mar, ficasse assim com o corpo pendente para não causar muitas ondas e em contrapartida faço caras estranhas na esperança de vires sereia para gargalhares comigo.
Queria t dar a árvore do príncipezinho, hoje corri a casa à procura do livro, vou encontrá-la e aprender tudo sobre a forma de as criar, quais os cuidados para a fazer crescer, dá-me tua morada… só te a entrego quando precisares realmente da sua sombra. Quero voltar, tens a capacidade de m tornar objectivo e um dia virás a esta cidade que me acolhe, por minhas capacidades extraordinárias, vais perceber que esse brilho dispersa-me, não gosto dele, quero m esconder debaixo das tuas saias e num volte face levar-te às cavalitas.

Dado consagrado

A Alerquim chegando perto em voz de veludo, numa elegância obscura revelava seu relatório devagar.
Viviam como casal exemplar num rico condomínio da cidade, ostentavam poder, reflexo em seu carro, sua casa, suas jóias, seus pet’s e jantares que o marido fisicamente desinteressante fazia constantemente não por afecto mas pelo prazer de demonstrar e provocar inveja.
Era uma relação frágil, pois este homem nervoso, calvo e balofo, com o tempo revelara-se diferente a ela, apesar de alimentar-lhe os caprichos, sufocava-a controlando cada momento, exigindo seu intenso corpo presente, indiferente ao que ela pensasse.
O distanciamento entre eles era latente, os sonhos que ela obstinada insistia em tornar reais, eram para ele substância a cozinhar em lume brando. Sacrifício a fazer por aquela obra de arte que apresentava aos amigos como troféu.
Aquele ciúme exagerado era sintoma de toda a sua insegurança, mais cedo ou mais tarde ela lembrar-se-ia que ele era a ultima razão porque ela ficava.
Minha Arlequim facilmente seduziu aquele homem permitindo me assim marcar tal encontro, que o corpo dela também desejava e escrevia em livros e versos secretos.
O encontro foi em todo estranho cada palavra escrita ditavam nossos movimentos e beijei seus seios, apoderei-me de um corpo que nunca será na totalidade domado, ela fervia pela liberdade que eu lhe concebia em ser ela e em brusco desejo levava me a exaustão de meus próprios sentidos.
Sentia me perdido em excessos, sua pele bronzeada permitia me desenhar caminhos em força e garra, ela entregava-se à minha fome e excitação e os pensamentos tinham à muito sido engolidos pelo desejo mais animal, aquele que supera razões, ela minha cama e eu cobertor, crescendo em prazer.
No fim de uma tarde inteira de sexo, mordi seu corpo e ela sorriu, fumava um cigarro invisível enquanto olhava o entardecer, sentia-me criança observando o corpo e o meu desejo latente, ela tinha a maturidade e a realidade que vinha lá de fora, que eu não permitia entrar no meu espaço, mais secreto.
O marido traidor, decidira telefonar-lhe depois de se sentir enganado pela minha Arlequim que só o despistava, ele não era digno de mais que isso, era um ser asqueroso e nervoso, que só depois de entender que minha Arlequim só o testava, lembrara-se da mulher fantástica que tinha deixado tantas vezes trancada em casa.
Mulher agora renovada, vestida com o meu desejo, queria poder estar com ela em segredo, sempre...

Sunday, August 06, 2006

O regresso do Alerquim

Os Arlequins, como sociedade secreta, quase terminaram pelo seu culto narcísico, à perfeição tornada obsessão, a sedução de suas palavras, a vastidão de sua cultura e poesia em cada gesto, tornavam-nos exímios atiradores tanto no beijo como no estucar das mais afinadas laminas. Sua missão primeira sempre fora proteger os Líricos e Viajantes, acreditando serem estes os eleitos a uma sociedade à sua imagem… perfeita. Mas a sociedade prefere-se imperfeita e a capacidade de deleite nessa imperfeição, não estava ao alcance desta seita, que quase morreu… não fossem os Líricos e Viajantes, que generosos souberam questionar o mundo, sem extremismos. Os Arlequins são ainda hoje hábeis marionetas, fascinantes em cor e presença, envolventes com seus fios invisivelmente cortantes, porém cegos no requinte a que brindaram noites ao longo dos séculos, são hoje noctívagos militantes, insensíveis à boémia, frustrados de inacção, pois já não sabem o que defender, matar ou mesmo seduzir.
Sendo eu descendente de Líricos, certa noite, ela acordou-me a meio de meu descanso, tinha o cabelo negro ondulado e na cara de porcelana os mais rubros lábios sorriam-me docemente, como se já ali estivesse à muito tempo, na escuridão… facilmente entendi tratar-se de uma Arlequim, por vários sinais que somente se revelaram por sentidos.
A mensagem que trazia era clara, deveria persistir em minha busca… falou-me que tinha facilmente localizado Cristina, pois era de facto perturbante a excitação que aquela mulher provocava, exaltação instintiva tal a volúpia de seu corpo que reclamava outras vontades e cuidados… descobrira que ela também ansiava por nosso encontro e sonhava com a entrega a prazeres agora negados, por outros cegos na sua posse e pelo seu próprio medo…

Friday, July 07, 2006

Primeira Morte

O bisturi escapara de sua trajectória cortando unha e dedo ao meio, excitado de horror o dedo era agora pinça ensanguentada que procurava de novo a justiça do que antes houvera, um indicador em vez de dois, a unha partira-se seria impossível dissimular, porem a carne e sangue fervorosamente lutavam para que não passasse de um sonho mau, este dilacerar.
Comovido Larko, rasgou um pedaço de pano e atou o dedo em pano embebido em vodka, a dor fizera que ele acordasse da escuridão, o sangue estancava e a carne voltava ao seu lugar, a unha crescera nova e a cicatriz mal se via.

A noite é um manto de desculpas esfarrapadas, o deleite da solidão já me provou ser eu que vivo errado e giro ao contrário do mundo, 15 minutos separam Larko da casa de Lisnas, Lisnas abre sempre a porta jurando ser a ultima vez, Larko despe-a e toca-lhe como se ela fosse barro em movimentos oscilantes, puxa-lhe os cabelos, corre com seus dedos por sua boca, procuram nela a negação e resistência, depois a excitação e por fim seu declarado prazer. Lisnas não esconde, pois todo o corpo treme, ainda em pasmos, marcas de desejo ficam marcadas, nódoas negras, dentadas, chupões, acima de tudo cansaço e a porta ainda aberta, quase a fechar, mas Larko mais uma vez, não a ultima vez, impede a porta de se fechar e sai.

Lisnas chora nunca quis Larko, nunca quis que fosse ele, seu maior prazer, mas seu corpo nunca o recusará, por mais desconhecido que ele seja.

Thursday, June 15, 2006

Nada se passa…

Pareces tão compenetrada, espalhaste os papeis por toda a mesa, numa ordem que não me atrevo a questionar, nada parece mais ou tão significativo como este momento, que acontece sempre e que me leva em contra medida a reagir surpreendido, pela excitação que sabes tão bem provocar.
Teu corpo nu a meia-luz, atiça o medo puto, como se fosses meu ultimo esplendor, estás compenetrada nas palavras e imagens do mundo que ficou no lado de fora e embora entendas minha presença e deleite, apresentas-te inflexível quanto às regras.
Vingativo procuro-me distrair com os estilhaços de madeira que ardem na lareira, pelo prazer do método afio o lápis de carvão e construo o resto da casa onde estamos agora, sei que também queres espreitar meus esquiços, tanto como eu quero que t deites com essa pele quente sobre mim como pluma e soprando ao meu ouvido, ameaças morde-lo como se não entendesses que esse respirar é convite a virar-me e torna-lo mais ofegante.
Quero arranhar tuas coxas, quero tuas reivindicações em meus mais taurinos desempenhos, pois se digo que sou melhor é porque quero te melhor pois eu sou a ti igual, permaneces compenetrada com teu cigarro a preto e branco.
Não te quero Aparição… mas também.

Monday, June 05, 2006

Mexicana Rendez Vous

A terra… o nome da terra, já não me lembro mais, mas na despedida o céu era vermelho e a poeira irritava a garganta, tinha que sair dali!!!
Deixava para trás a festa de Baco, talvez o momento mais inebriante da minha curta vida.
Ela dizia que tinha voz de puto e que podia dividir a mesma cama com ela, eu tinha chegado à anos, mas aparentava minutos, tal o nervosismo de por tudo à prova, de não me saber invencível, revelando fragilidades e outras desculpas que a impediriam de se revelar.
Do beco escuro, vira homens e mulheres passar, bêbados brindando à luxúria quente da carne, entre ouro e seios, dedos que tudo tomavam seus e casados que riam de a minha sobriedade de permanecer só, sobriedade que desejara perder desde que a tinha visto passar, distinta de tudo o que antes observara.
Dei passos serenos revelando me à cidade e ganhara a nitidez inesperada que ela tivera-me observado muito tempo antes, quase como se aquele corpo alvo de volúpia forte, seguro na cidade ondulante, me tivesse esperado fora do tempo.
Ela era intemporal e perdendo sua mão em meus cabelos … disse baixinho:
- Tu és um menino, não tenhas medo podes dormir na minha cama longe dos maus!
Relutante de orgulho agradeci, era impossível não sentir a sua morna, ela sabia de mim e perto dela não tinha poderes para armar minha bruma, a mesma bruma que mil vezes tinha me feito pardo na escuridão.
Deitou-se nua a meu lado e sentia que a pela dela era fria e branca …ela sabia que eu a observava, seus peitos tigreses e pernas fantasia, sua anca farta e ventre que eu beberia num só trago se pudesse.
Beijou-me devagar e cobriu-me como a noite.
- Eu não posso adormecer – disse ela – tenho medo que os vampiros me venham buscar – e usufruía de mim, comandando ritmos e tempos.
- Ensina-me a controlar o tempo – disse eu alucinado.
Continuava perdido na cidade depois do suar… as melgas já nem esperavam meu adormecer e picavam me, continuava absorvido por aquelas costas…estaria ela a dormir ou pensava também…as costas violão eram em totalidade apetecíveis…
Recordo-me da tatuagem no fim das costas que a meu tempo conduzirei…um desenho de uma cereja e por baixo a frase… Fruto da Imaginação.

Wednesday, May 17, 2006

O Ritual Mon Sier Act

Na cave do prédio nº834, a lâmpada iluminava em movimento pendulado o colchão, onde dois corpos se consumiam em alta cilindrada, ela reagia em prazer de descoberta, numa ânsia de liberdade e desafio “motard” às leis do mundo, agradava-lhe o risco e o controle, a velocidade, sabia dele seu desejo e deixava-se consumir como gasolina, gostava da impetuosidade que incentivava sua própria loucura, cravava-lhe suas unhas nas costas, prendia-o entre suas ancas obrigando-o a mais.
Só sua exaustão a deixaria satisfeita.
Ela nunca sonhara em desejar atravessar o risco, porém permitiu o risco chegar mais perto, e agora surpreendia-se em toda a sua força e capacidade de esquecer e usar. A satisfação em muito superava o acto, era o segredo, a proibição, a resistência em conflito ora consciente ora inconsciente, entre gemidos que dava altos e logo de seguida tímidos e afónicos com medo que alguém a visse rendida, não ao seu amante, mas a si própria.
Afinal sentia-se animal, no estalar dos ossos, no ritmo inebriante de não querer parar, era ópio do Homem que a possuía com seu consentimento, ela tinha o controlo de sentir tudo o que perdera por se dedicar meramente à realidade, e ele era dela na surpresa, no modo como suas mãos enormes a prendia, e dentes e língua, ele era animal feroz bestial e ao mesmo tempo pássaro ferido faminto daquela sua compaixão.
Ele a deixaria viver a e na realidade, mas seria soberano na fantasia e seus corpos em choque e choques se devorariam voláteis, sem deixar pistas visíveis, virava-a a agora de quatro, e lambendo o pescoço, dando-lhe seus dedos a morder, cobrindo-a como a noite pergunta:
- Também me achas atraente?
- Calado! Não tens que saber! – Pensou ela sem o dizer beija o agora, gostam dos lábios um do outro e ela não quer perguntas ou outros sons e desse modo engole-lhe as palavras, deixa o mudo. Tornou-se essa a exigência, naquele espaço pendular onde a lâmpada balança e balança, marcando horas que nunca sairão à rua.

Há uma luz estranha sobre o rio e ela à janela observa, enquanto ele tornasse ele, gato vadio, de olhar e pelo espesso, será que ela fez amor sozinha, o espelho reflecte apenas o corpo dela, entregue às suas fantasias, ele existe gato de orelhas pontiagudas, parece sorrir-lhe, mas ela sentiu um homem dentro dela, estremeceu com suas próprias mãos.
Voltou a olhar a janela e desejou novamente, o gato tornando-se de novo homem calado abraçou-a de costas, aprenderam a falar sem nada dizer, a pele dele entregue a dela, reflecte o desejo sincero, a sinceridade de outras coisas com nomes que não saem à rua.

- Não sei porque permito cheirares-me.
- Por ser teu perfume!
- Presunçoso. Sou feliz, não quero saber de ti!
- Somos todos assim de vez em quando.
- Cala-te.

Sempre que ela dizia isto era gato de novo, o silencioso era tudo o que nos protegia.



Gosto dos desenhos que insinuas, mesmo sabendo do teu mau jeito para desenhar.

Sunday, May 14, 2006

Requeijão e doce de laranja.

Todos os momentos até chegar ali foram dourados, era fácil fechar os olhos e sentir aquela imensidão laranja ao por do sol. Eu sabia que tinha feito tudo bem, cada gesto cinematográfico, o modo de enrolar o cigarro, acende-lo e fuma-lo. Tinha invadido o seu olhar com solenidade de convidado sensível a cada pormenor e sinal. Tinha decidido não me projectar em expectativas embora as encontrasse seguras de tão semelhantes às suas e sentindo me em casa deitei-me num sofá que nunca fora meu.
A casa é uma cidade a cidade é uma casa tinham me dito enquanto me formava como exímio atirador de arquitectura, esgrimindo-me em eloquentes batalhas e devaneios por uns lábios quentes nos meus… mas ela tinha me dado razões para superar velhos ditos.
Saltei do quarto andar, deixando um brilho lunar no seu olhar, a partir daquela queda sabia de ti e de tua casa, e em 8 passos de anarquista espalhei a boa nova na cidade, surpreendido com minha nova visão e sabedoria. A casa era hoje e sempre uma pessoa e uma pessoa uma casa. Olhar pelas janelas era desnudar um corpo, a sensualidade inebriante da cama – leoa, fazia me rir ainda, continuava a sentir o frio da noite, em orgulho ferido nunca mais pararei meu olhar no brilho de uma só janela, vou falhar, mas morrerei persistente de que um dia abarcarei o mundo e em mérito, terei teu espanto e carinho.
Engraçado como palavras como carinho assustam muito mais que as outras… as quais meus dentes dilaceram e minha inteligência desmoronam.

Hoje telefonei-lhe e ela estava no campo, colhendo laranjas… arrepiei-me em prazer, o desejo de ser eu cerca-la como uma arvore, colhendo dela frutos em flor de laranjeira, em variações de humos, enquanto eu próprio me confundia nela e em sua natureza.
Ela é cidade e nicotínica fica na varanda a conversar como se a lua fosse sua vizinha e marcasse com ela encontros, num volte face mas prezando a fonia volta nipónica à cama, em gestos de lince para se aninhar com rosto sobre meu peito de ferrugem maquinal.
Finjo dormir ainda disfarçando meu espanto…conheço minha ferocidade vulcânica, meus músculos tensos de cidade e força, desarmados por aquele corpo em mim tão contrastante.
Ela cheira a laranjas e saber seus sabores é brincar à cabra cega, abrindo-lhe em cada investida, os olhos a novos prazer que ainda agora a assustam.

Ela é cidade mas hoje estava no campo.
Eu sei fazer o infinito contigo mas preferes brincar e por isso não ver.


O monstro viu neste encanto uma fraqueza e curtou-me os lábios com um espelho, rasgou-me o rosto com delicado requinte, babando ao meu ouvido, balbuciou num complicado grunhido de satisfação, tens uns lábios muito bonitos, retirou-me um pedaço de lábio e comeu-o, dançando depois em climax.
Anestesiado de horror, não tentei responder, sentia o sangue a jorrar, enquanto ele cozia agora dizendo que queria me ainda mais bonito, via m disforme no espelho, tentei chorar, mas meu rosto já não me obedecia, o monstro tinha me cortado tendões essenciais, tinha me paralizado.

Friday, May 05, 2006

Detesto a expectativa das Sextas Feiras

E deram-te tempo para pensar, sabias que isto ia acontecer, não serias para sempre reclamado, desculpando-te por isso de pensares, as sombras cobriram tudo e mesmo no canto escuro onde lambias tuas feridas, tentam t enchutar.
Ser sombra era inevitável, não era esse o caminho que escolheras, lutas-te bem por aquele sorriso, ávido contorceste adversidades várias, eras combatente, e ainda conheces bem a velocidade com que o sangue corre ao desafio. Espantavas por lutar contra o que mais desejavas, sendo esse prazer negado, castigo por seres sempre sozinho.
Estranho hábito este que vestis-te e te faz diferente, aceite como contra ponto, interessante por resistir a este tempo em que pensas afastado e longínquo.
A ausência de ti mesmo confronta-te, és incapaz de ser amado por ninguém saber que existes, desconfiarem do teu esplendor e cuspi-lo como farsa, as pessoas apropriam-se de personagens que desempenhas com talento, mas nada devem e por isso não se prendem. Tu próprio só soubeste do amor uma vez e precisas-te de fugir para entenderes como ele era verdadeiro e talvez a tua maior armadura, mas o amor é veneno em ti, pois garantiu-te o teu esplendor que inevitavelmente leva-te de novo, a desafiar o mundo e todas as suas tentações. Ela era o teu segredo e tu quiseste muito mais, a totalidade, ganhar 8 vezes, 8 voltas, 8 posses de tudo o que viste e olha para ti agora.
Digno, mas louco, vampiro que há muito é queimado pelo sol e sabe que esmaga em vez de morder, revelas-te um monstro tu que eras elegante no teu andar anarquista, desenhavas borboletas com o dedo indicador e lias os corpos das mulheres que amavas como livros e agora matas, vingas-te da ausência de ti próprio e as vitimas que se entregam e desejam, que gemem em prazer com tua veracidade, não entendem que não tens alma, preferes-te só, porque a hipótese de voltares a ser de novo Casanova, implica a armadura que rompeste e destruís-te … a única que foi verdadeira e agora todas as armaduras… corpos de mulher que te convidam a entrar e desbravar nelas tua essência são trespassadas frágeis a tuas mãos ainda abismalmente assassinas.

A escuridão do casarão assustaria todos os falsos góticos, no centro a cadeira e a luz da lua, ele pensa no sorriso dela no sofá, lembra-a vitoriosa, entende que o mundo deseja-a e apesar disso ela sorri, gosta dele de verdade.
Ele quase morto, sente reconforto por saber dela bem, sabe que não deverá interferir, por não se reconhecer, louco espumando mal se lembra do seu verdadeiro no nome, só poderia voltar se realizasse os sonhos que levou quando partiu e esses nunca virão.
Contorcesse partindo as unhas, falando para a escuridão, as voltas fala imaginários e conversas de chá dançante. Mutilasse para ter razão.

Afinal o pior não é estar triste… o pior é não saber porquê!

Tuesday, May 02, 2006

Lounge Lastic

Centrado naquele café na mesa mais central de todas, concentrava riscos de fúria àquele anjo que o atormentava, desenhava como se possuísse nas suas mãos o corpo que desejava e o olhar dela juro que era em todo semelhante aquele ali desenhado…
Enquanto à volta dele se adensavam cortinas de um cinzento pálido, todos aqueles que no café o observavam, entusiastas ou curiosos, pela a arte ou pelo artista, obrigavam-se a não perde-lo.
Rendez-vous rangeu entre os dentes, sentia a solenidade daquela gente, que queimavam os minutos daquela tarde em beijos lânguidos, tiques nervosos de café e bafos nicotínicos uns de sexo outros de profundo aborrecimento, enquanto desenhava, seu ego sorvedouro regurgitou-se perverso, incitando a curiosidade, chave primeira da posse e adoração.
Por entre o labirinto de mesas uma mulher de salto alto ousou desafiar o grotesco burburinho daquele amarelento covil, lento mas atento ao ritmo de seus quadris.
Vale a pena desviarmos a atenção de quem nunca a mereceu, ela sentou-se num canto e suas pernas suaves e longas eram desejo espraiado ao infinito, generosa oferenda a todo aquele capaz de como gato se espreguiçar.
As sombras perdidas de ainda mais perdidos seres, desejaram possui-la, predadores reconheciam a frescura e fragilidade dos cheiros e aromas.
O paladar da multidão tecia com mestria, suas pernas que forçosamente abriam, ávidos de seu próprio egoísmo, certos de engolirem a luz que aquela mulher trazia, já pouco se importavam com o incomodativo riscar do desenhador, que obcecado prosseguia indiferente.
Sombras como mãos, fizeram-na estremecer, mas nada ali era mais elegante e segura afinal e com audácia as cortinas cercas do artista se esfumaram com seu olhar, facto que fez o ruído da grafite suar a guitarra portuguesa. Estupefactas as aranhas contorciam-se atemorizadas ao entenderem que o desenho agora perfeito em pormenores revelava a mulher por todos desejada, segura avançou e ambos sorriram como se de velhos conhecidos se tratassem e muito tivessem a dizer um ao outro.
A multidão tem como hábil engenho voltar a ser mera multidão, assumir-se ou diluir-se a si própria, todos se observam uns aos outros, regateando em mercado silencioso, mais ou menos olhares, celebrando reconhecimentos de que são próprias vítimas.
Com mesma elegância ela partiu, vitoriosa, sabendo agora as razões dele a ter sonhado, dele a desejar conhecer a cada traço.

O desenhador novamente só, olha pela grande janela, por donde se vê, Eltanor, a cidade que ilumina a escuridão, com seus cuspidores de fogo e cartomantes, ao anoitecer pessoas saem à rua, gargalhando conspirações, respirando o frio que bafeja cada esquina.
Traficantes de droga, silenciosos louvam a deus, defrontando o senhor marquês que em pomposa corte e deleite petulância, acha graça a tudo, ambos são precisos vernáculos desta cidade. Doce e inebriante, provocadora e mortal.
Eltanor tem ruas, cheias de lojas mirabolantes, de magias e faz de contas, de feitiços capazes de satisfazer corpos sempre sós, suas ruas são em ziguezague, pontuadas por touradas e igrejas.
Indiferente à feira de vaidades, a mulher que sonhara seguia em diante sem se distrair com os vermelhos diabos, ao longe parecia um farol e depois mais longe ainda uma estrela. Anoitecera em Eltanor.

Thursday, April 27, 2006

O riso luz em obscuridade desfocada

O medo do escuro, do silêncio que trouxeste na caixa, fazia aquele tremer na respiração e o abraço surgiu era impensável isso não acontecer, afinal és tu quem o pedia e ele sempre foi teu…mesmo escondido na duvida do tempo, duvida existente apenas pelo reconforto de ser dissipada quando de repente o escuro do nada se torna tudo, por estarmos juntos.
Como tremes tu, surpreso e incitado em entender teus sustos, deixo o outro lado de mim, a ti me revelo porque também m apetece voar às vezes, e preciso entender a extensão de um braço, até onde pode um braço tocar, quantos suspiros e confissões pode meu abraço abarcar.
Tenho uma vida aqui, neste espaço de ronrons, onde a barba pica em sonhos em ar que se respira e se consome em combustão…
A sala luminosa e vazia o tempo aqui preso levou-me a conhecer cada canto, mesmo de olhos vendados, a surpresa é tudo o que está lá fora e lá fora que me projecto porém aqui fico, imóvel partiram-me ossos, tonificando músculos, ranjo os dentes ao agressor que me condenou a esta pena, pena de morte conquistada por ser ela o maior desafio da vida.
Agora debruço-me pela janela ardo no desejo da queda… sei que o amor bate as asas sobre nós.

De uma silhueta elegante e desfocada uma voz pergunta: Já comeste as bolachas todas?


Claro que não comi...

Tuesday, April 25, 2006

Um acordar em Cecyberlandis

Se todos vissem teu dançar, a rua em enchente contagioso seria palco da mais bela romaria, cada passo delicado teu que não gera qualquer ruído ou coisa feia, pauta sorrisos entusiastas e encanto nas coisas mais simples de todas.
Boneca de porcelana e cabelo de palha desculpe acordá-la mas faz com que meus sonhos sejam risonhos, como se descobrisse a eureka de Aristóteles, o busílis da questão, a dança mais secreta de todos, que me deixa sem saber quem guia quem ou se haverá por ventura guião.
Os cépticos só podem ser curados por essa intemporal dança, dai a importância da maior descoberta de sempre, descoberta única e primordial, oculta a todos os que medos têm da solidão. A sinuosidade inebria ao descer sua anca, ao vencer seu primeiro suspiro e ganho outra altivez e percepção das coisas, ao beber de teus segredos, recupero alguma vida que por descuido haverá perdido.
Nossos umbigos, centro do mundo, deitam abaixo todos os cânones estabelecidos e agitam o voo nervoso de um pássaro a milhares de quilómetros daqui.
O mundo não vai saber… gostamos dele como está.
Ao sair deixo os cortinados fechados, por saber que hoje não trabalhas, queres que tudo permaneça escuro pois só assim conseguimos ver as borboletas que criamos horas antes, fazes barulho, prendes me por mais um bocadinho, afinal que mal há em quebrar regras, se o mundo acabasse já não tinha que sair do quarto dizias.
Tenho que apanhar o comboio mais perigoso de todos, não t chateia minha barba grande, dá o ar de matulão com que gozas de vez em vez, engulo uma borboleta e de negro enfrento a claridade do dia.

Ela tinha rapazes no armário...



Havia uma menina parada sobre uma cadeira a olhar para a janela, o céu era tão azul nos olhos dela que se sabia que o tempo era melhor dentro dela que fora, de facto não havia ali janela e não sabia como estava o tempo, mas o olhar dela abria caminhos em paredes de outro modo impenetráveis.
Ela respirava e o peito era alvo de uma suavidade fresca e gélida, parecia que apenas o tempo a conhecia, seduzido porém não enganado, ouvi a tempo um estalo no soalho que fez me esconder atrás do alto armário.
Um boneco sem olhos, caminhava anarquista sobre oito pernas e com suas mãos de fino molde tirou do bolso, um novelo que prontamente atou em cada dedo da menina, depois braço e pescoço, o boneco sempre com a mesma expressão assustava-a, ela respirava agora assustada, procurava me com o olhar e eu imóvel permanecia.
Olhei o armário e estavam lá outros homens, eles sim agonizados e mesmo assim avisando me com seus olhares que havia possibilidade de me tornar uma deles, eu estava entregue ao meu instinto.
Todo o tempo passou-me pela cabeça fugir, acordar no confortável sofá da sala e combinar um café com amigos, pareceu me ser o mais sensato de tudo, pois tinha a certeza que o boneco, pouco se importava com minha presença, sentia-me com a certeza que eu iria errar e desse modo apenas esperava.
Aproximei-me dela e toquei-lhe na mão e vendo o sorriso dela, assumi-me certo, desatei-lhe cada nó, porém cada nó custava mais, doía…
O boneco a meu lado continuava com uma poesia desarmante a atar tudo que ainda faltava, abracei-a e afastei-a dele, ele começou a tactear com aparente calma, puxando pelos cordéis ainda atados, cordéis esses que consegui cortar.
Ela olhava para mim com um sorriso tão bonito, parecia calma agora, o boneco desorientado corria a sala devagar em nosso encalço.
Livre, ergueu-se de novo e pediu-me um abraço, o qual dei pensando no seu cheiro e calor, envolvemo-nos num beijo, ela disse que beijava quem gostava e que me queria levar para casa, eu queria sair daquela sala, havia rapazes no armário disse-lhe e o boneco tacteava cada vez mais perto.
- Cada nó que desatas-te, atou-te a mim! – Depois olhando-me nos olhos disse:
- Sei do demónio que há em ti, que te faz sempre vadio… queres ficar?

- Sou fugitivo do que persigo.

A liberdade passou a ter outro sentido, fizemos amor, enquanto foi noite no seu olhar.

Um de nós salvou-se de seu feitiço... não digo qual.

Sunday, April 23, 2006

Gnor e o Sol : Conto Tradicional de Artivális

Gnor sempre me apaixonou por ter a pele mais morena e suave que quaisquer outras... tinha marcas do sol, provas de como o astro a beijava quando ela passava, para Sol tudo nela era tentador queria queima-la com seu silvo língua de fogo, saber o seu sabor, Touro flamejante investia nela, violento infame quente.
Ele não sabia ser gentil com ela perto, sofria por isso.
Não por não ser gentil, até o era com suas mãos celestiais, tinha sensatez e sabedoria de a acariciar enquanto sonhava, porém quando seus olhos se cruzavam, ele mudava pelo entusiasmo de a ver tão perto e de saber que nunca é perto demais quando nos sentimos realmente convictos do que desejamos e nos realizamos junto de tal pessoa…
Porém para Gnor, Sol era o perigoso instinto animal, nele não havia mentira ou maldade, havia a alegria compulsiva de um sorriso verdadeiro, de um olhar feliz em luz que a cegava.
Gnor desejava ver Sol sofrer, por vingança e inveja de sua felicidade, por ele conseguir fruir só de a ver, Gnor oferecia-lhe o desprezo como prenda envenenada, excitada de o entristecer, de reflectir nos outros sua infelicidade e solidão, Gnor a rainha da apatia, da indiferença declarava morte ao sol, deixava que este a invadisse porém sua satisfação maior era negar-lhe o seu prazer, tornando todos os esforços de Sol vãos, deixando o vir sozinho e exausto com sua esperança.
Sol compreendia sua amada, entendia-a como mentira e inimiga da vida e do amor que sentia… morria aos poucos, deixando Gnor vencer, desejando ser salvo num último suspiro por uma lágrima dela, lágrima que não viria.
Sol renasceria das cinzas matando tudo o que demais frágil amava, mataria Gnor num mero sopro, e choraria depois por ser ele devera o mais fraco… por a ter amado, por nunca ter tido seu afecto, por ser mero instrumento de sua superioridade …
Gnor conquistara sua morte, menosprezando sonhos, convicta de sua inteligência e desprezo de tudo o que nos leva a sentir em vez de pensar…

A História de Gnor e o Sol… ainda hoje é contada às crianças dos homens mais ricos dos campos alísios de Sampegnória em Artivális, não sei porque sonhei com isso, mas levantei me num repente e assustado rui o acordo prévio com aquele que apenas exigia silêncio.
Tinha a porta aberta bem perto de mim, mas senti que era tarde demais… todas as sombras me bloqueavam pernas e raciocínios… no centro da sala o horrendo me olhava curioso e agradado de meu medo, finalmente sabia qual de nós era Gnor, qual de nós era Sol …

Índicios de monstruosidade...

Dentes amarelos e olheiras... cacos e vidros no chão impossibilitam caminhar descalço... os narcóticos e drogas ilegais levaram seus olhos a amarelar também e sua pele envelhecer como folhas de papel enrugadas e secas...ou das outras folhas que estalam no outono.
O monstro permanecia imovel na cadeira, unica peça de imobiliário reconhecivel na penumbra daquelas velas suicidas... de tão perto estarem do papel de parede. O vulto sentia minha presença mas não me atacaria se eu não pertubasse o silencio do seu altar, eu apenas respirava, tal como aquele quarto.
No chão as fotos queimadas, a porcelana partida, cabeças de boneca e traça sugeriam-no incapaz de se mover, porém sua sombra dava voltas e voltas no passar dos dias, como se fosse um predador cheirando a excitação da presa. O medo atiça os sentidos e declara vencedores e vencidos, porque estáva ele ali parado com o mundo lá fora a correr ?
Eu abri-lhe a porta... sei que não me vai perdoar, fiz lhe sentir o frio gélido da noite como estocada em sua arqueada espinha... seus olhos e ouvidos são bem mais apurados que os meus tão cansados...pareceu me tê-lo visto mexer-se...mas não, temo que ele venha ao meu encontro e me degule e feche de novo a porta que eu abri para o desafiar... mas ele não se mexe ... acho q vou dormir um bocadinho...

O monstro indigno...

Que fiz eu?