Wednesday, May 17, 2006

O Ritual Mon Sier Act

Na cave do prédio nº834, a lâmpada iluminava em movimento pendulado o colchão, onde dois corpos se consumiam em alta cilindrada, ela reagia em prazer de descoberta, numa ânsia de liberdade e desafio “motard” às leis do mundo, agradava-lhe o risco e o controle, a velocidade, sabia dele seu desejo e deixava-se consumir como gasolina, gostava da impetuosidade que incentivava sua própria loucura, cravava-lhe suas unhas nas costas, prendia-o entre suas ancas obrigando-o a mais.
Só sua exaustão a deixaria satisfeita.
Ela nunca sonhara em desejar atravessar o risco, porém permitiu o risco chegar mais perto, e agora surpreendia-se em toda a sua força e capacidade de esquecer e usar. A satisfação em muito superava o acto, era o segredo, a proibição, a resistência em conflito ora consciente ora inconsciente, entre gemidos que dava altos e logo de seguida tímidos e afónicos com medo que alguém a visse rendida, não ao seu amante, mas a si própria.
Afinal sentia-se animal, no estalar dos ossos, no ritmo inebriante de não querer parar, era ópio do Homem que a possuía com seu consentimento, ela tinha o controlo de sentir tudo o que perdera por se dedicar meramente à realidade, e ele era dela na surpresa, no modo como suas mãos enormes a prendia, e dentes e língua, ele era animal feroz bestial e ao mesmo tempo pássaro ferido faminto daquela sua compaixão.
Ele a deixaria viver a e na realidade, mas seria soberano na fantasia e seus corpos em choque e choques se devorariam voláteis, sem deixar pistas visíveis, virava-a a agora de quatro, e lambendo o pescoço, dando-lhe seus dedos a morder, cobrindo-a como a noite pergunta:
- Também me achas atraente?
- Calado! Não tens que saber! – Pensou ela sem o dizer beija o agora, gostam dos lábios um do outro e ela não quer perguntas ou outros sons e desse modo engole-lhe as palavras, deixa o mudo. Tornou-se essa a exigência, naquele espaço pendular onde a lâmpada balança e balança, marcando horas que nunca sairão à rua.

Há uma luz estranha sobre o rio e ela à janela observa, enquanto ele tornasse ele, gato vadio, de olhar e pelo espesso, será que ela fez amor sozinha, o espelho reflecte apenas o corpo dela, entregue às suas fantasias, ele existe gato de orelhas pontiagudas, parece sorrir-lhe, mas ela sentiu um homem dentro dela, estremeceu com suas próprias mãos.
Voltou a olhar a janela e desejou novamente, o gato tornando-se de novo homem calado abraçou-a de costas, aprenderam a falar sem nada dizer, a pele dele entregue a dela, reflecte o desejo sincero, a sinceridade de outras coisas com nomes que não saem à rua.

- Não sei porque permito cheirares-me.
- Por ser teu perfume!
- Presunçoso. Sou feliz, não quero saber de ti!
- Somos todos assim de vez em quando.
- Cala-te.

Sempre que ela dizia isto era gato de novo, o silencioso era tudo o que nos protegia.



Gosto dos desenhos que insinuas, mesmo sabendo do teu mau jeito para desenhar.

Sunday, May 14, 2006

Requeijão e doce de laranja.

Todos os momentos até chegar ali foram dourados, era fácil fechar os olhos e sentir aquela imensidão laranja ao por do sol. Eu sabia que tinha feito tudo bem, cada gesto cinematográfico, o modo de enrolar o cigarro, acende-lo e fuma-lo. Tinha invadido o seu olhar com solenidade de convidado sensível a cada pormenor e sinal. Tinha decidido não me projectar em expectativas embora as encontrasse seguras de tão semelhantes às suas e sentindo me em casa deitei-me num sofá que nunca fora meu.
A casa é uma cidade a cidade é uma casa tinham me dito enquanto me formava como exímio atirador de arquitectura, esgrimindo-me em eloquentes batalhas e devaneios por uns lábios quentes nos meus… mas ela tinha me dado razões para superar velhos ditos.
Saltei do quarto andar, deixando um brilho lunar no seu olhar, a partir daquela queda sabia de ti e de tua casa, e em 8 passos de anarquista espalhei a boa nova na cidade, surpreendido com minha nova visão e sabedoria. A casa era hoje e sempre uma pessoa e uma pessoa uma casa. Olhar pelas janelas era desnudar um corpo, a sensualidade inebriante da cama – leoa, fazia me rir ainda, continuava a sentir o frio da noite, em orgulho ferido nunca mais pararei meu olhar no brilho de uma só janela, vou falhar, mas morrerei persistente de que um dia abarcarei o mundo e em mérito, terei teu espanto e carinho.
Engraçado como palavras como carinho assustam muito mais que as outras… as quais meus dentes dilaceram e minha inteligência desmoronam.

Hoje telefonei-lhe e ela estava no campo, colhendo laranjas… arrepiei-me em prazer, o desejo de ser eu cerca-la como uma arvore, colhendo dela frutos em flor de laranjeira, em variações de humos, enquanto eu próprio me confundia nela e em sua natureza.
Ela é cidade e nicotínica fica na varanda a conversar como se a lua fosse sua vizinha e marcasse com ela encontros, num volte face mas prezando a fonia volta nipónica à cama, em gestos de lince para se aninhar com rosto sobre meu peito de ferrugem maquinal.
Finjo dormir ainda disfarçando meu espanto…conheço minha ferocidade vulcânica, meus músculos tensos de cidade e força, desarmados por aquele corpo em mim tão contrastante.
Ela cheira a laranjas e saber seus sabores é brincar à cabra cega, abrindo-lhe em cada investida, os olhos a novos prazer que ainda agora a assustam.

Ela é cidade mas hoje estava no campo.
Eu sei fazer o infinito contigo mas preferes brincar e por isso não ver.


O monstro viu neste encanto uma fraqueza e curtou-me os lábios com um espelho, rasgou-me o rosto com delicado requinte, babando ao meu ouvido, balbuciou num complicado grunhido de satisfação, tens uns lábios muito bonitos, retirou-me um pedaço de lábio e comeu-o, dançando depois em climax.
Anestesiado de horror, não tentei responder, sentia o sangue a jorrar, enquanto ele cozia agora dizendo que queria me ainda mais bonito, via m disforme no espelho, tentei chorar, mas meu rosto já não me obedecia, o monstro tinha me cortado tendões essenciais, tinha me paralizado.

Friday, May 05, 2006

Detesto a expectativa das Sextas Feiras

E deram-te tempo para pensar, sabias que isto ia acontecer, não serias para sempre reclamado, desculpando-te por isso de pensares, as sombras cobriram tudo e mesmo no canto escuro onde lambias tuas feridas, tentam t enchutar.
Ser sombra era inevitável, não era esse o caminho que escolheras, lutas-te bem por aquele sorriso, ávido contorceste adversidades várias, eras combatente, e ainda conheces bem a velocidade com que o sangue corre ao desafio. Espantavas por lutar contra o que mais desejavas, sendo esse prazer negado, castigo por seres sempre sozinho.
Estranho hábito este que vestis-te e te faz diferente, aceite como contra ponto, interessante por resistir a este tempo em que pensas afastado e longínquo.
A ausência de ti mesmo confronta-te, és incapaz de ser amado por ninguém saber que existes, desconfiarem do teu esplendor e cuspi-lo como farsa, as pessoas apropriam-se de personagens que desempenhas com talento, mas nada devem e por isso não se prendem. Tu próprio só soubeste do amor uma vez e precisas-te de fugir para entenderes como ele era verdadeiro e talvez a tua maior armadura, mas o amor é veneno em ti, pois garantiu-te o teu esplendor que inevitavelmente leva-te de novo, a desafiar o mundo e todas as suas tentações. Ela era o teu segredo e tu quiseste muito mais, a totalidade, ganhar 8 vezes, 8 voltas, 8 posses de tudo o que viste e olha para ti agora.
Digno, mas louco, vampiro que há muito é queimado pelo sol e sabe que esmaga em vez de morder, revelas-te um monstro tu que eras elegante no teu andar anarquista, desenhavas borboletas com o dedo indicador e lias os corpos das mulheres que amavas como livros e agora matas, vingas-te da ausência de ti próprio e as vitimas que se entregam e desejam, que gemem em prazer com tua veracidade, não entendem que não tens alma, preferes-te só, porque a hipótese de voltares a ser de novo Casanova, implica a armadura que rompeste e destruís-te … a única que foi verdadeira e agora todas as armaduras… corpos de mulher que te convidam a entrar e desbravar nelas tua essência são trespassadas frágeis a tuas mãos ainda abismalmente assassinas.

A escuridão do casarão assustaria todos os falsos góticos, no centro a cadeira e a luz da lua, ele pensa no sorriso dela no sofá, lembra-a vitoriosa, entende que o mundo deseja-a e apesar disso ela sorri, gosta dele de verdade.
Ele quase morto, sente reconforto por saber dela bem, sabe que não deverá interferir, por não se reconhecer, louco espumando mal se lembra do seu verdadeiro no nome, só poderia voltar se realizasse os sonhos que levou quando partiu e esses nunca virão.
Contorcesse partindo as unhas, falando para a escuridão, as voltas fala imaginários e conversas de chá dançante. Mutilasse para ter razão.

Afinal o pior não é estar triste… o pior é não saber porquê!

Tuesday, May 02, 2006

Lounge Lastic

Centrado naquele café na mesa mais central de todas, concentrava riscos de fúria àquele anjo que o atormentava, desenhava como se possuísse nas suas mãos o corpo que desejava e o olhar dela juro que era em todo semelhante aquele ali desenhado…
Enquanto à volta dele se adensavam cortinas de um cinzento pálido, todos aqueles que no café o observavam, entusiastas ou curiosos, pela a arte ou pelo artista, obrigavam-se a não perde-lo.
Rendez-vous rangeu entre os dentes, sentia a solenidade daquela gente, que queimavam os minutos daquela tarde em beijos lânguidos, tiques nervosos de café e bafos nicotínicos uns de sexo outros de profundo aborrecimento, enquanto desenhava, seu ego sorvedouro regurgitou-se perverso, incitando a curiosidade, chave primeira da posse e adoração.
Por entre o labirinto de mesas uma mulher de salto alto ousou desafiar o grotesco burburinho daquele amarelento covil, lento mas atento ao ritmo de seus quadris.
Vale a pena desviarmos a atenção de quem nunca a mereceu, ela sentou-se num canto e suas pernas suaves e longas eram desejo espraiado ao infinito, generosa oferenda a todo aquele capaz de como gato se espreguiçar.
As sombras perdidas de ainda mais perdidos seres, desejaram possui-la, predadores reconheciam a frescura e fragilidade dos cheiros e aromas.
O paladar da multidão tecia com mestria, suas pernas que forçosamente abriam, ávidos de seu próprio egoísmo, certos de engolirem a luz que aquela mulher trazia, já pouco se importavam com o incomodativo riscar do desenhador, que obcecado prosseguia indiferente.
Sombras como mãos, fizeram-na estremecer, mas nada ali era mais elegante e segura afinal e com audácia as cortinas cercas do artista se esfumaram com seu olhar, facto que fez o ruído da grafite suar a guitarra portuguesa. Estupefactas as aranhas contorciam-se atemorizadas ao entenderem que o desenho agora perfeito em pormenores revelava a mulher por todos desejada, segura avançou e ambos sorriram como se de velhos conhecidos se tratassem e muito tivessem a dizer um ao outro.
A multidão tem como hábil engenho voltar a ser mera multidão, assumir-se ou diluir-se a si própria, todos se observam uns aos outros, regateando em mercado silencioso, mais ou menos olhares, celebrando reconhecimentos de que são próprias vítimas.
Com mesma elegância ela partiu, vitoriosa, sabendo agora as razões dele a ter sonhado, dele a desejar conhecer a cada traço.

O desenhador novamente só, olha pela grande janela, por donde se vê, Eltanor, a cidade que ilumina a escuridão, com seus cuspidores de fogo e cartomantes, ao anoitecer pessoas saem à rua, gargalhando conspirações, respirando o frio que bafeja cada esquina.
Traficantes de droga, silenciosos louvam a deus, defrontando o senhor marquês que em pomposa corte e deleite petulância, acha graça a tudo, ambos são precisos vernáculos desta cidade. Doce e inebriante, provocadora e mortal.
Eltanor tem ruas, cheias de lojas mirabolantes, de magias e faz de contas, de feitiços capazes de satisfazer corpos sempre sós, suas ruas são em ziguezague, pontuadas por touradas e igrejas.
Indiferente à feira de vaidades, a mulher que sonhara seguia em diante sem se distrair com os vermelhos diabos, ao longe parecia um farol e depois mais longe ainda uma estrela. Anoitecera em Eltanor.