Thursday, April 27, 2006

O riso luz em obscuridade desfocada

O medo do escuro, do silêncio que trouxeste na caixa, fazia aquele tremer na respiração e o abraço surgiu era impensável isso não acontecer, afinal és tu quem o pedia e ele sempre foi teu…mesmo escondido na duvida do tempo, duvida existente apenas pelo reconforto de ser dissipada quando de repente o escuro do nada se torna tudo, por estarmos juntos.
Como tremes tu, surpreso e incitado em entender teus sustos, deixo o outro lado de mim, a ti me revelo porque também m apetece voar às vezes, e preciso entender a extensão de um braço, até onde pode um braço tocar, quantos suspiros e confissões pode meu abraço abarcar.
Tenho uma vida aqui, neste espaço de ronrons, onde a barba pica em sonhos em ar que se respira e se consome em combustão…
A sala luminosa e vazia o tempo aqui preso levou-me a conhecer cada canto, mesmo de olhos vendados, a surpresa é tudo o que está lá fora e lá fora que me projecto porém aqui fico, imóvel partiram-me ossos, tonificando músculos, ranjo os dentes ao agressor que me condenou a esta pena, pena de morte conquistada por ser ela o maior desafio da vida.
Agora debruço-me pela janela ardo no desejo da queda… sei que o amor bate as asas sobre nós.

De uma silhueta elegante e desfocada uma voz pergunta: Já comeste as bolachas todas?


Claro que não comi...

Tuesday, April 25, 2006

Um acordar em Cecyberlandis

Se todos vissem teu dançar, a rua em enchente contagioso seria palco da mais bela romaria, cada passo delicado teu que não gera qualquer ruído ou coisa feia, pauta sorrisos entusiastas e encanto nas coisas mais simples de todas.
Boneca de porcelana e cabelo de palha desculpe acordá-la mas faz com que meus sonhos sejam risonhos, como se descobrisse a eureka de Aristóteles, o busílis da questão, a dança mais secreta de todos, que me deixa sem saber quem guia quem ou se haverá por ventura guião.
Os cépticos só podem ser curados por essa intemporal dança, dai a importância da maior descoberta de sempre, descoberta única e primordial, oculta a todos os que medos têm da solidão. A sinuosidade inebria ao descer sua anca, ao vencer seu primeiro suspiro e ganho outra altivez e percepção das coisas, ao beber de teus segredos, recupero alguma vida que por descuido haverá perdido.
Nossos umbigos, centro do mundo, deitam abaixo todos os cânones estabelecidos e agitam o voo nervoso de um pássaro a milhares de quilómetros daqui.
O mundo não vai saber… gostamos dele como está.
Ao sair deixo os cortinados fechados, por saber que hoje não trabalhas, queres que tudo permaneça escuro pois só assim conseguimos ver as borboletas que criamos horas antes, fazes barulho, prendes me por mais um bocadinho, afinal que mal há em quebrar regras, se o mundo acabasse já não tinha que sair do quarto dizias.
Tenho que apanhar o comboio mais perigoso de todos, não t chateia minha barba grande, dá o ar de matulão com que gozas de vez em vez, engulo uma borboleta e de negro enfrento a claridade do dia.

Ela tinha rapazes no armário...



Havia uma menina parada sobre uma cadeira a olhar para a janela, o céu era tão azul nos olhos dela que se sabia que o tempo era melhor dentro dela que fora, de facto não havia ali janela e não sabia como estava o tempo, mas o olhar dela abria caminhos em paredes de outro modo impenetráveis.
Ela respirava e o peito era alvo de uma suavidade fresca e gélida, parecia que apenas o tempo a conhecia, seduzido porém não enganado, ouvi a tempo um estalo no soalho que fez me esconder atrás do alto armário.
Um boneco sem olhos, caminhava anarquista sobre oito pernas e com suas mãos de fino molde tirou do bolso, um novelo que prontamente atou em cada dedo da menina, depois braço e pescoço, o boneco sempre com a mesma expressão assustava-a, ela respirava agora assustada, procurava me com o olhar e eu imóvel permanecia.
Olhei o armário e estavam lá outros homens, eles sim agonizados e mesmo assim avisando me com seus olhares que havia possibilidade de me tornar uma deles, eu estava entregue ao meu instinto.
Todo o tempo passou-me pela cabeça fugir, acordar no confortável sofá da sala e combinar um café com amigos, pareceu me ser o mais sensato de tudo, pois tinha a certeza que o boneco, pouco se importava com minha presença, sentia-me com a certeza que eu iria errar e desse modo apenas esperava.
Aproximei-me dela e toquei-lhe na mão e vendo o sorriso dela, assumi-me certo, desatei-lhe cada nó, porém cada nó custava mais, doía…
O boneco a meu lado continuava com uma poesia desarmante a atar tudo que ainda faltava, abracei-a e afastei-a dele, ele começou a tactear com aparente calma, puxando pelos cordéis ainda atados, cordéis esses que consegui cortar.
Ela olhava para mim com um sorriso tão bonito, parecia calma agora, o boneco desorientado corria a sala devagar em nosso encalço.
Livre, ergueu-se de novo e pediu-me um abraço, o qual dei pensando no seu cheiro e calor, envolvemo-nos num beijo, ela disse que beijava quem gostava e que me queria levar para casa, eu queria sair daquela sala, havia rapazes no armário disse-lhe e o boneco tacteava cada vez mais perto.
- Cada nó que desatas-te, atou-te a mim! – Depois olhando-me nos olhos disse:
- Sei do demónio que há em ti, que te faz sempre vadio… queres ficar?

- Sou fugitivo do que persigo.

A liberdade passou a ter outro sentido, fizemos amor, enquanto foi noite no seu olhar.

Um de nós salvou-se de seu feitiço... não digo qual.

Sunday, April 23, 2006

Gnor e o Sol : Conto Tradicional de Artivális

Gnor sempre me apaixonou por ter a pele mais morena e suave que quaisquer outras... tinha marcas do sol, provas de como o astro a beijava quando ela passava, para Sol tudo nela era tentador queria queima-la com seu silvo língua de fogo, saber o seu sabor, Touro flamejante investia nela, violento infame quente.
Ele não sabia ser gentil com ela perto, sofria por isso.
Não por não ser gentil, até o era com suas mãos celestiais, tinha sensatez e sabedoria de a acariciar enquanto sonhava, porém quando seus olhos se cruzavam, ele mudava pelo entusiasmo de a ver tão perto e de saber que nunca é perto demais quando nos sentimos realmente convictos do que desejamos e nos realizamos junto de tal pessoa…
Porém para Gnor, Sol era o perigoso instinto animal, nele não havia mentira ou maldade, havia a alegria compulsiva de um sorriso verdadeiro, de um olhar feliz em luz que a cegava.
Gnor desejava ver Sol sofrer, por vingança e inveja de sua felicidade, por ele conseguir fruir só de a ver, Gnor oferecia-lhe o desprezo como prenda envenenada, excitada de o entristecer, de reflectir nos outros sua infelicidade e solidão, Gnor a rainha da apatia, da indiferença declarava morte ao sol, deixava que este a invadisse porém sua satisfação maior era negar-lhe o seu prazer, tornando todos os esforços de Sol vãos, deixando o vir sozinho e exausto com sua esperança.
Sol compreendia sua amada, entendia-a como mentira e inimiga da vida e do amor que sentia… morria aos poucos, deixando Gnor vencer, desejando ser salvo num último suspiro por uma lágrima dela, lágrima que não viria.
Sol renasceria das cinzas matando tudo o que demais frágil amava, mataria Gnor num mero sopro, e choraria depois por ser ele devera o mais fraco… por a ter amado, por nunca ter tido seu afecto, por ser mero instrumento de sua superioridade …
Gnor conquistara sua morte, menosprezando sonhos, convicta de sua inteligência e desprezo de tudo o que nos leva a sentir em vez de pensar…

A História de Gnor e o Sol… ainda hoje é contada às crianças dos homens mais ricos dos campos alísios de Sampegnória em Artivális, não sei porque sonhei com isso, mas levantei me num repente e assustado rui o acordo prévio com aquele que apenas exigia silêncio.
Tinha a porta aberta bem perto de mim, mas senti que era tarde demais… todas as sombras me bloqueavam pernas e raciocínios… no centro da sala o horrendo me olhava curioso e agradado de meu medo, finalmente sabia qual de nós era Gnor, qual de nós era Sol …

Índicios de monstruosidade...

Dentes amarelos e olheiras... cacos e vidros no chão impossibilitam caminhar descalço... os narcóticos e drogas ilegais levaram seus olhos a amarelar também e sua pele envelhecer como folhas de papel enrugadas e secas...ou das outras folhas que estalam no outono.
O monstro permanecia imovel na cadeira, unica peça de imobiliário reconhecivel na penumbra daquelas velas suicidas... de tão perto estarem do papel de parede. O vulto sentia minha presença mas não me atacaria se eu não pertubasse o silencio do seu altar, eu apenas respirava, tal como aquele quarto.
No chão as fotos queimadas, a porcelana partida, cabeças de boneca e traça sugeriam-no incapaz de se mover, porém sua sombra dava voltas e voltas no passar dos dias, como se fosse um predador cheirando a excitação da presa. O medo atiça os sentidos e declara vencedores e vencidos, porque estáva ele ali parado com o mundo lá fora a correr ?
Eu abri-lhe a porta... sei que não me vai perdoar, fiz lhe sentir o frio gélido da noite como estocada em sua arqueada espinha... seus olhos e ouvidos são bem mais apurados que os meus tão cansados...pareceu me tê-lo visto mexer-se...mas não, temo que ele venha ao meu encontro e me degule e feche de novo a porta que eu abri para o desafiar... mas ele não se mexe ... acho q vou dormir um bocadinho...

O monstro indigno...

Que fiz eu?