Tuesday, April 25, 2006

Ela tinha rapazes no armário...



Havia uma menina parada sobre uma cadeira a olhar para a janela, o céu era tão azul nos olhos dela que se sabia que o tempo era melhor dentro dela que fora, de facto não havia ali janela e não sabia como estava o tempo, mas o olhar dela abria caminhos em paredes de outro modo impenetráveis.
Ela respirava e o peito era alvo de uma suavidade fresca e gélida, parecia que apenas o tempo a conhecia, seduzido porém não enganado, ouvi a tempo um estalo no soalho que fez me esconder atrás do alto armário.
Um boneco sem olhos, caminhava anarquista sobre oito pernas e com suas mãos de fino molde tirou do bolso, um novelo que prontamente atou em cada dedo da menina, depois braço e pescoço, o boneco sempre com a mesma expressão assustava-a, ela respirava agora assustada, procurava me com o olhar e eu imóvel permanecia.
Olhei o armário e estavam lá outros homens, eles sim agonizados e mesmo assim avisando me com seus olhares que havia possibilidade de me tornar uma deles, eu estava entregue ao meu instinto.
Todo o tempo passou-me pela cabeça fugir, acordar no confortável sofá da sala e combinar um café com amigos, pareceu me ser o mais sensato de tudo, pois tinha a certeza que o boneco, pouco se importava com minha presença, sentia-me com a certeza que eu iria errar e desse modo apenas esperava.
Aproximei-me dela e toquei-lhe na mão e vendo o sorriso dela, assumi-me certo, desatei-lhe cada nó, porém cada nó custava mais, doía…
O boneco a meu lado continuava com uma poesia desarmante a atar tudo que ainda faltava, abracei-a e afastei-a dele, ele começou a tactear com aparente calma, puxando pelos cordéis ainda atados, cordéis esses que consegui cortar.
Ela olhava para mim com um sorriso tão bonito, parecia calma agora, o boneco desorientado corria a sala devagar em nosso encalço.
Livre, ergueu-se de novo e pediu-me um abraço, o qual dei pensando no seu cheiro e calor, envolvemo-nos num beijo, ela disse que beijava quem gostava e que me queria levar para casa, eu queria sair daquela sala, havia rapazes no armário disse-lhe e o boneco tacteava cada vez mais perto.
- Cada nó que desatas-te, atou-te a mim! – Depois olhando-me nos olhos disse:
- Sei do demónio que há em ti, que te faz sempre vadio… queres ficar?

- Sou fugitivo do que persigo.

A liberdade passou a ter outro sentido, fizemos amor, enquanto foi noite no seu olhar.

Um de nós salvou-se de seu feitiço... não digo qual.

1 comment:

PL said...

Muito intenso e de vivas imagens.