Sunday, June 17, 2007

Sentidos I

Uma boca chegava e dizia “bom dia” e desaparecia sem rumo certo, o” bom dia” ficava naquela sala como pó a assentar, ouvia-se um bom dia sussurrado enquanto a porta basculante se agitava na sua partida.
Um olhar que a via como traço no papel ao entrar e sair a sala, ansiava que tal boca tão bem desenhada ficasse, aquele olhar angustiava a tormenta acumulativa de ficar calado todo aquele tempo, sempre que a boca passava.
Uma mão de dedos contorcidos pianava o tampo da mesa marcando o compasso e lembrando o quente daquela boca, a outra mão segurava um cigarro acabado que também o queimava… não tanto como aquela boca.
Um ouvido ansiava que aquele nervoso panorama fosse quebrado em grande estrondo, invejosa curiosidade, atenta ao mais ínfimo fulgor de todos os que viam a outra mulher passar.
Um nariz ancião equilibrava balanças e descobria fraquezas e aspirações, cada fragrância tinha sua vivencial razão, cheirava a desejo alado, a tremula inocência, a ilusionista provocação e morte.

Havia uma janela para o infinito azul

Havia uma janela para o infinito azul, ondas salgadas e quentes espreguiçavam-se ao chegar, e o sol estendia os mais finos raios pensando em possui-la ali mesmo, correndo lânguido suas pernas e queimando em desejo o que aquele decote insinuava. O corpo daquela mulher fazia o sol queimar e chegar mais perto da sua janela.

Ela não estava só, um gato negro, parecia dançar tango com cada passo que ela fazia, seu olhar escondido pela franja negra, mais negra que o gato, mais negra que o mundo, devia estar fechado, ela imaginava uma musica e pensava em alguém, alguém de quem gostava, pois o sorriso daquela boca quente e salgada como as ondas era evidente.
Ela tinha vários amantes, não era só o sol que a deitava sobre o parapeito e entrava dentro dela… também o vento, também o mar, também o gato, cada um deles a seduzia e a tomava como sua, sendo o reverso também verdade, era livre com seus amantes, por seus dentes e músculos, seu corpo sensual ser fruto dessa irreverência, de ser gulosa.
Lá em baixo na cidade branca, a virilidade humana, os músculos e vozes olhavam para aquela janela, para aquela mulher e queria que ela caísse lentamente como pluma nos seus braços. Sabiam ser senhora de seu nariz, senhora de tantas sardas como estrelas e olhar para o céu de noite, naquelas noites quentes era como imagina-la nua.

A luz corre como bala

A luz corre como bala
Só teu sorriso me protege
Teu olhar embala
O lado mau que me rege
Sabias me assim
Sem magia só manha
Ainda zombas de mim
Com essa risada tamanha
Pedi te um beijo
Disseste não
Queres me rijo
Perdes a razão
Porque saltas na cama?
Porque és sol em mim?
Pediste-me um beijo
Disse-te nim

Pequeno-almoço na cama
Distraída vês na Tv. cavalos
Chamo-te topo de gama
Recebo dois pares de estalos
Irra doeu… és estúpida ou quê?
Derrubas-me num forte abraço
Perguntas me o porquê?
Fazes um coração no meu braço
Eu perdoo, não tens explicação
Enrolas meus nos teus pés
Só para ouvir o teu coração
Contas ovelhas mas só até dez

Afinal não queres dormir…!
Apertas te a mim assim malvada
O futuro ainda está pra vir
Mas não queres saber de nada
A tarde é tua
O corpo que é meu
Dizes uma capicua
Leio em ti o que ninguém leu
Mordi teus ombros
Fui mãos interrogativas
Ergues me dos escombros
Danças e cativas
Os dias são coloridos
Pintora eléctrica e louca
Faço os dias mais compridos
Só para beber o néctar dessa boca
Gostas de Fred Astaire
Mordes os lábios como a Briget Bardot
Não valorizas o que podes ter
Ficas contente com o pouco que dou

Esfolei o gato...nova vida... já só restam 6...

Sentir.te... obrigo a sentar.te...sem arte... abandono.me do que é certo...
Sentido... num vazio permitido sem nada...sinto a pele esfolada...
Beijaste-me e calas.te o grito mudo... Contudo
É teu beijo meu unico desejo...
Não pares... explica-me o infinito em numeros pares
Deixa me perplexo...exausto no teu sexo...
E espero.te nas curvas mais apertadas...
Encontro.te nas horas por ti marcadas....
Aprendi a viver no escuro... o sol deixa-me cego...
Tactei.o em queda livre como morcego
E mato... só assim sossego em mim este bicho do mato...
Assisti da minha janela à primeira morte... o gato primeiro morreu...viva o gato!