O barulho ensurdecedor deste mercedes
No fim da noite desgracei-me nuns vertiginosos 260 km/h
Não sei onde tenho a cabeça
Não sei de qual dos dois é a culpa
Se é culpa do condutor que acelera compulsivamente o meu carro
Caixão improvisado com vista para o céu estrelado
Sim porque hoje há mais estrelas logo na noite em que decidi sair comigo mesmo
Ou se a culpa é de quem não me diz para eu parar, para tirar de mim
este desejo de me conduzir a um fim
Carros no sentido oposto parecem me ligar os máximos de espanto
Ainda respira o futuro morto
Vai descontrolado por vontade própria, não resistirá
Que ceife sua vida e não a dos outros, bêbado irresponsável
Mas estou sóbrio, só não lhes digo isso, porque já não quero olhar para tudo o que deixo para trás
Queria só entender-me e mas não vou conseguir
O carro foi acelerando, acelerendo tanto como a minha vontade de encontrar respostas
Porém entendo que nunca as saberei, talvez haja nisto tudo uma sensação de alívio...
Como se me esquivasse a um último teste ou exame à qual não tinha estudado
e que a desculpa fosse tão convicente que o professor benevolente, lá consentia-me 10 valores...
Sinto-me irresponsável, deslargo-as mãos do volante, o mostrador chega ao seu limite ...
O carro despista-se e aceito a minha morte, que preversa, me concede mais alguns seguntos de esperança, dou por mim a fazer cálculos sobre o meu corpo projectado entre estilhaços no ar, verifico que o carro catapulta-se, contorcendo seu esqueleto de metal e as faiscas e médios produzem uma dança frenética, será o convite ao inferno?
Como sempre deixei coisas por fazer na minha lista, instintivamente pensei no que era fútil e agora que os perco definitivamente, quero lhes dizer o quanto os amo, porque o amor ficará bem mais vincado que a marca destes pneus...
Amei-os muito, meu corpo até agora flutuante, contacta a terra e finalmente despedaça-se
Pensei que não seria assim o fim, olhei o céu estrelado e não senti mais nada.
Voltei a acordar, senti finalmente dores, tantas e em todo o lado.
À minha volta estão aqueles em que pensei por ultimo, choram, abro os olhos
Sinto calor nos meus olhos que enfrentam agora os olhos de quem amei e sempre estiveram comigo
Desgraçado, que valente susto! - Oiço... tento sorrir...
Entendo a sua preocupação, mas com a mesma vontade que me impedi de parar, vou acelerar de novo para a vida agora...
Espero te bem amigo