Sunday, June 17, 2007

Sentidos I

Uma boca chegava e dizia “bom dia” e desaparecia sem rumo certo, o” bom dia” ficava naquela sala como pó a assentar, ouvia-se um bom dia sussurrado enquanto a porta basculante se agitava na sua partida.
Um olhar que a via como traço no papel ao entrar e sair a sala, ansiava que tal boca tão bem desenhada ficasse, aquele olhar angustiava a tormenta acumulativa de ficar calado todo aquele tempo, sempre que a boca passava.
Uma mão de dedos contorcidos pianava o tampo da mesa marcando o compasso e lembrando o quente daquela boca, a outra mão segurava um cigarro acabado que também o queimava… não tanto como aquela boca.
Um ouvido ansiava que aquele nervoso panorama fosse quebrado em grande estrondo, invejosa curiosidade, atenta ao mais ínfimo fulgor de todos os que viam a outra mulher passar.
Um nariz ancião equilibrava balanças e descobria fraquezas e aspirações, cada fragrância tinha sua vivencial razão, cheirava a desejo alado, a tremula inocência, a ilusionista provocação e morte.

2 comments:

nefelibata said...

Percebo agora todos os teus silêncios…Leio agora por onde andaste gato vadio…Ter-te-ás encontrado nestes dias de ausências ou pertencerás eternamente a ninguém? Gostava de perceber os silêncios que não contas, gostava de ouvir nãos justificados. E o café ficará em palavras ou virás um dia ao meu encontro?

Loba Branca said...

Dou-te...

Um laço,
Um descanço pro cançaço,
Um afago envolvente,
Braços quentes e macios,
ombros mornos,
Silêncio eloquente...
Um abraço...
Sem perguntas,
Sem respostas,
Sem receitas.
Um aconchego no vazio...
Toma!
Dou-te a ti...
Gato vadio.


Um uivo sentido nos teus sentidos.