Sunday, May 14, 2006

Requeijão e doce de laranja.

Todos os momentos até chegar ali foram dourados, era fácil fechar os olhos e sentir aquela imensidão laranja ao por do sol. Eu sabia que tinha feito tudo bem, cada gesto cinematográfico, o modo de enrolar o cigarro, acende-lo e fuma-lo. Tinha invadido o seu olhar com solenidade de convidado sensível a cada pormenor e sinal. Tinha decidido não me projectar em expectativas embora as encontrasse seguras de tão semelhantes às suas e sentindo me em casa deitei-me num sofá que nunca fora meu.
A casa é uma cidade a cidade é uma casa tinham me dito enquanto me formava como exímio atirador de arquitectura, esgrimindo-me em eloquentes batalhas e devaneios por uns lábios quentes nos meus… mas ela tinha me dado razões para superar velhos ditos.
Saltei do quarto andar, deixando um brilho lunar no seu olhar, a partir daquela queda sabia de ti e de tua casa, e em 8 passos de anarquista espalhei a boa nova na cidade, surpreendido com minha nova visão e sabedoria. A casa era hoje e sempre uma pessoa e uma pessoa uma casa. Olhar pelas janelas era desnudar um corpo, a sensualidade inebriante da cama – leoa, fazia me rir ainda, continuava a sentir o frio da noite, em orgulho ferido nunca mais pararei meu olhar no brilho de uma só janela, vou falhar, mas morrerei persistente de que um dia abarcarei o mundo e em mérito, terei teu espanto e carinho.
Engraçado como palavras como carinho assustam muito mais que as outras… as quais meus dentes dilaceram e minha inteligência desmoronam.

Hoje telefonei-lhe e ela estava no campo, colhendo laranjas… arrepiei-me em prazer, o desejo de ser eu cerca-la como uma arvore, colhendo dela frutos em flor de laranjeira, em variações de humos, enquanto eu próprio me confundia nela e em sua natureza.
Ela é cidade e nicotínica fica na varanda a conversar como se a lua fosse sua vizinha e marcasse com ela encontros, num volte face mas prezando a fonia volta nipónica à cama, em gestos de lince para se aninhar com rosto sobre meu peito de ferrugem maquinal.
Finjo dormir ainda disfarçando meu espanto…conheço minha ferocidade vulcânica, meus músculos tensos de cidade e força, desarmados por aquele corpo em mim tão contrastante.
Ela cheira a laranjas e saber seus sabores é brincar à cabra cega, abrindo-lhe em cada investida, os olhos a novos prazer que ainda agora a assustam.

Ela é cidade mas hoje estava no campo.
Eu sei fazer o infinito contigo mas preferes brincar e por isso não ver.


O monstro viu neste encanto uma fraqueza e curtou-me os lábios com um espelho, rasgou-me o rosto com delicado requinte, babando ao meu ouvido, balbuciou num complicado grunhido de satisfação, tens uns lábios muito bonitos, retirou-me um pedaço de lábio e comeu-o, dançando depois em climax.
Anestesiado de horror, não tentei responder, sentia o sangue a jorrar, enquanto ele cozia agora dizendo que queria me ainda mais bonito, via m disforme no espelho, tentei chorar, mas meu rosto já não me obedecia, o monstro tinha me cortado tendões essenciais, tinha me paralizado.

1 comment:

Larko said...

Larko:

Agradeço em vénia de marmóreo visconde teu comentário, julgava me sozinho no meu covil!
Sabes quem sou? Reformulo... sabes quem aparento ser?
Eu de ti nada sei, o sangue agrada, mas o prazer é maior ao sentir o bater do coração, o susto, a entrega desequilibrada.
Mais uma vez agradeço e te asseguro que lerei tal liturgia muito mais vezes, como motor de inspiração ou na procura de pistas para chegar a ti.

Dmir Glavovich Larko